Relembrando os anos 50 !

28/02/2015 às 3:54 | Publicado em Artigos e textos, Zuniversitas | 2 Comentários
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Sempre dizemos que o brasileiro não tem memória. Este post é nesse sentido, de avivar a nossa memória para não permitir que os erros do passado se repitam. Não precisa ter muita imaginação para prever o que a mídia vai dizer disso: que o interesse dele(s) Lula(PT) é 2018…


Lula põe o bloco na rua: “Quero paz e Democracia, mas se eles não querem nós sabemos brigar também”

O debate é o mesmo, desde Vargas: falam de ética, para entregar o Brasil aos gringos

O debate é o mesmo, desde Vargas: falam de ética, para entregar o Brasil aos gringos

“A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma.”

Reproduzo acima o segundo parágrafo da Carta Testamento de Vargas. E aí está: a Petrobrás citada de forma direta pelo presidente que foi levado ao suicídio em agosto de 1954.

A luta pelo Petróleo estava no centro do debate político dos anos 50. E segue central agora.

Os Marinho e os udenistas (que eram os tucanos dos anos 50) queriam a derrota de Vargas e do projeto de um Brasil independente. Diziam que Vargas e o trabalhismo eram um “mar de lama”. Eles eram limpos? Sabemos… São os mesmos: agripinos, mervais, civitas, aécios e seus aeroportos, família marinho e seus golpes.

Neste dia 24 de fevereiro de 2015, em que se lançou no Rio a campanha pela salvação da Petrobrás (com um belíssimo ato na ABI, precedido na rua por pancadaria de fascistas que tentaram impedir a manifestação), neste mesmo dia, o jornal da família Marinho publicou editorial em que afirma que defender a maior empresa brasileira é “voltar aos anos 50”.

Exatamente!

A Globo não quer que se lembre dos anos 50.

Relembremos, pois.

Povão homenageou a Globo em 1954

Povão homenageou a Globo em 1954

Vargas foi levado ao suicídio por sacripantas (alô, Miguel do Rosário, essa é pra você, que enfrenta – de cabeça erguida – a Globo e seus capatazes). No dia seguinte, 25 de agosto de 1954, caminhões de O Globo foram queimados. O jornal foi invadido.

A Globo teve que esperar 10 anos para dar o golpe, em 64.

Por isso, a família Marinho não quer que o debate volte aos anos 50. Porque a brincadeira termina mal para a turma deles.

A família Marinho (aliada aos tucanos, e entregue a articulações com representantes dos EUA) quer a Petrobras destruída.

Mas para isso, os sacripantas terão que enfrentar o outro lado – que começou a se mobilizar no Rio, neste dia 24 de fevereiro. Não vão dar o passeio que estão imaginando.

Por isso, o ato na ABI foi tão importante.

Ao microfone, Pinguelli Rosa, professor da UFRJ, lembrou: “punam-se os culpados, mas deixem a Petrobras em paz”.

Luis Nassif, blogueiro e jornalista, lembrou que o ato lembrava as grandes manifestações do “Petroleo é Nosso”.

Eric Nepomuceno, também jornalista, disse que alguém havia perguntado a ele “se não haveria por trás dessa campanha contra a Petrobras algo estranho”. E Nepomuceno disse: “não há nada por trás, é uma campanha escancarada mesmo”.

As cartas estão na mesa.

João Pedro Stedile, do MST, lembrou que o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) já apresentou projeto no Congresso para entregar o Pré-Sal às petroleiras internacionais. “Ganhamos nas urnas, mas perdemos no Congresso e na mídia; só tem uma forma de derrotá-los de novo – ir pra rua”, arrematou Stedile.

FHC queria transformar a Petrobrás em Petrobrax, para privatizá-la, lembrou o presidente da CUT, Wagner Freitas, que afirmou também: “a mídia golpista hoje age da mesma forma que na época de Lacerda contra Vargas”.

Durante o ato, os sindicalistas convocaram o povo para as ruas no dia 13 de março – em defesa da Petrobras. Será dois dias antes da manifestação golpista de 15 de março.

Lula participou da manifestação no Rio – sinalizando que vai comandar o movimento de botar o bloco popular na rua.

Não há outra saída. Não se trata de defender Dilma do impeachment. É hora de defender o projeto de Nação iniciado por Vargas, retomado por Jango e Lula.

Lula percebeu o tamanho do desafio, e lembrou no discurso a história de Vargas: “pra saber o que está acontecendo agora no Brasil, é preciso entender o que aconteceu com JK, com Getúlio, com Jango e o que tentaram fazer comigo na presidência.”

Lula lembrou: “eles esta fazendo agora o que sempre fizeram a vida toda; a ideia básica é criminalizar, pela imprensa, porque aí já começa o processo pela sentença”.

“Toda vez que na historia da humanidade se tentou criminalizar a política, o resultado foi sempre pior. Veja a Operação mãos Limpas na Itália! O resultado foi Berlusconi”, disse Lula.

O ex-presidente relembrou também que os EUA relançaram a Quarta Frota depois que a Petrobras descobriu o Pré-Sal. O que está em jogo é a correlação de forças na América do Sul, portanto.

Lula falou diretamente para Dilma: “A nossa querida Dilma tem que deixar as investigações pra PF ou Justiça. Ela tem é que levantar a cabeça e dizer ‘ganhei as eleições’. Gente, eles [tucanos e mídia] perderam as eleições e estão todos pomposos. Eles estão desaforados, viu. Em vez de ficar chorando, vamos defender o que é nosso. Defender a Petrobrás, defender a Democracia.”

Lula ainda atirou contra a mídia : “quero lembrar à imprensa que cheguei duas vezes à presidência sem apoio da mídia.

Sinalizou, portanto, que é preciso definir bem as coisas: as famílias que dominam a mídia estão no centro do golpe. Igual a 1954. A diferença é que agora ninguém pensa em suicídio. Lula avisou: “vou pra rua em 13 de março. Ninguém me fará baixar a cabeça nesse país”.

E finalizou: “Quero paz e Democracia. Mas se eles não querem, nós sabemos brigar também.”

(Rodrigo Vianna)

FONTE: http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/plenos-poderes/lula-poe-o-bloco-na-rua-quero-paz-e-democracia-mas-se-eles-nao-querem-nos-sabemos-brigar-tambem/

Sexta-feira: Lá ELE !

27/02/2015 às 3:48 | Publicado em Artigos e textos | Deixe um comentário
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Como hoje é sexta, vale esse post contando um pouco mais da cultura desta Boa Terra da Bahia de Todos os Santos.

LaEle


COISA DE BAIANO

O “lá ele” é uma das mais importantes expressões do idioma baianês,
mais especificamente do dialeto soteropolitano baixo-vulgar. Segundo
os léxicos, a expressão significa “outra pessoa, não eu” (LARIÚ,
Nivaldo. Dicionário de baianês. 3ª ed. rev. e ampl. Salvador: EGBA,
2007, s/n).

A origem da expressão é ambígua. Alguns etimologistas atribuem seu
surgimento às nativas do bairro da Mata Escura, enquanto outros
identificam registros mais antigos no falar dos moradores do Pau
Miúdo. O certo, porém é que o “lá ele” desempenha papel fundamental em
um dos aspectos mais importantes da cultura da primeira capital do
Brasil – a subcultura urbana do duplo sentido.

Desde a mais tenra infância, os naturais da Soterópolis são treinados
para identificar frases passíveis de dupla interpretação. Da mesma
forma, os soteropolitanos aprendem desde cedo a engendrar artimanhas
para que seu interlocutor profira expressões de duplo sentido.

Assim, as pessoas vivem sob constante tensão vocabular, cuidando para
não fazer afirmações que possam ser deturpadas pelo interlocutor. Para
indivíduos do sexo masculino, por exemplo, é vedado conjugar na
primeira pessoa inocentes verbos como “dar”, “sentar”, “receber”,
“cair”, “chupar” etc. O interlocutor sempre estará atento para, ao
primeiro deslize, destruir a reputação de quem pronunciou a palavra
proibida.

Como antídoto para a incômoda prática, o “lá ele” surgiu como uma
ferramenta indispensável na comunicação do soterpolitano. Assim, o
indivíduo que falar algo sujeito a interpretações maliciosas estará a
salvo se, imediatamente, antes da reação de seu interlocutor, falar em
alto e bom som “lá ele!”

Por exemplo, qualquer homem, por mais macho que seja, terá sua
orientação posta em dúvida se falar “Neste Natal comi um ótimo peru”.
Contudo, se sua frase for “Neste Natal comi um ótimo peru, lá ele!”,
não haverá qualquer problema. No mesmo diapasão, confira-se:

(i) se um colega de trabalho enviar um e-mail perguntando “vai dar
para almoçar hoje?”, não se pode redarguir apenas “Sim”; deve-se
reponder “Vai dar lá ele. Vamos almoçar”;

(ii) se, na pendência do pagamento de polpudos honorários, um advogado
perguntar ao outro “Já recebeu?”, a resposta deverá ser “Recebeu lá
ele. Já foi pago”;

(iii) ou, ainda, se alguém tiver a desdita de nascer no
citado bairro do Pau Miúdo, o que poderá transformar sua vida em um
interminável festival de chacotas, deverá sempre valer-se da ressalva:
“eu sou do Pau Miúdo, lá ele”.

Para melhor compreensão da matéria, reproduz-se abaixo um exemplo real, ocorrido durante a transmissão do grande clássico Vitória x Atlético de Alagoinhas:

– Locutor: “Subiu o cartão amarelo?”

– Repórter: “Subiu o amarelo e o vermelho.”

– Locutor: “Mas você está vendo subir tudo!”

– Repórter: “Lá ele!”

Note-se que o “lá ele” pode sofrer variações de gênero e número, de
acordo com a palavra que se pretende neutralizar. Se, antes de uma
sessão do TJBA, alguém perguntar “Você conhece os membros da turma
julgadora?”, deve-se objetar com veemência: “Lá eles!”. Ou se o
cidadão for à Sorveteria da Ribeira e lhe perguntarem “Quantas bolas o
senhor deseja?”, é de todo recomendável que se responda “Duas, lá
elas, por favor”.

A cultura duplo sentido oferece outros fenômenos da comunicação
interpessoal. Veja-se, a título de ilustração, o sufixo “ives”.

Em Salvador, não se pode falar palavras terminadas em “u”,
principalmente as oxítonas. Independentemente de sexo, idade ou classe
social, o indivíduo poderá ser mandado para aquele lugar (lá ele). A
pronúncia de uma palavra que dê (lá ela) rima com o nome popular do
esfíncter (lá ele) será prontamente rebatida com a amável sugestão.
Para fazer face ao problema, a vogal “u” passou a ser costumeiramente
substituída pelo sufixo “ives”.

Destarte, o capitão da Seleção de 2002 é tratado como “Cafives”; o
Estádio de Pituaçu virou “Pituacives”; o bairro do Curuzu se tornou
“Curuzives”; a capital de Sergipe sói ser chamada de “Aracajives”; e
as pessoas que atendiam pela alcunha de Babu, com frequência utilizada
na Bahia para apelidar carinhosamente pessoas de feições simiescas, há
muito tempo passaram a ser chamadas de “Babives”.

Cultura Soteropolitana


O filtro de barro, o capitalismo e a seca em SP

26/02/2015 às 11:48 | Publicado em Artigos e textos | 2 Comentários
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Os mais velhos vão lembrar desses filtros. A máxima do Capitalismo é antiga: criar necessidade para possibilitar negócios (grana). A hipótese da origem da seca é possível, resta comprovar (mas quem ?) e divulgar (ai duvido !).


O filtro de barro, o capitalismo e a seca em SP

filtro

Uma das maiores sacanagens do capitalismo, em minha opinião, é criar necessidades. Ou seja, fazer você acreditar que precisa de alguma coisa e então passar a não viver mais sem ela. Outra, pior ainda, é conseguir convencer as pessoas de que algo antigo, durável e que funciona perfeitamente na verdade é obsoleto e portanto deve ser substituído. Ambas as situações ocorreram com os filtros de barro no Brasil.

O filtro de barro é, segundo especialistas, a maneira mais segura e eficiente de se filtrar a água de beber que existe. Ela sai do filtro 95% livre do cloro, parasitas, pesticidas, metais como ferro, chumbo e alumínio e o que é melhor, fresquinha, porque a cerâmica diminui a temperatura da água em até 5 graus centígrados. É ainda o único filtro de água que recebe a classificação P-I do Inmetro, capaz de reter partículas de 0,5 a 1 mícron (os demais só acima de 15 mícrons). Uma façanha “tecnológica” do tempo da vovó.

No entanto, a partir da década de 1990, fomos convencidos do contrário: que o filtro de barro era ineficiente e até mesmo “cafona”, e que a melhor água para o consumo humano é a engarrafada, pela qual desde então pagamos dinheiro, em vez de utilizar a que vem da torneira, pela qual também pagamos, e 2 mil vezes mais barato.

O truque da água engarrafada nos fez cair como patinhos. Como a indústria de bebidas sabia que a curva ascendente dos refrigerantes tinha tempo para terminar –já que uma hora as pessoas iam se dar conta de que fazem mal para a saúde–, passou a investir em engarrafar e vender a pura, leve e saudável água. Quem tem algo a dizer contra ela? Resultado: o comércio de água engarrafada é hoje um negócio multibilionário. Só a Nestlé, a maior vendedora de água do planeta, fatura 9 bilhões de dólares anuais com um produto que nem sequer precisa fabricar, basta retirar do subsolo. A multinacional suíça é dona de mais de 70 marcas de água mineral, inclusive as famosas Perrier e S.Pellegrino.

Na região Sudeste do Brasil, de acordo com números do IBGE, até a década de 1990 mais de 70% das casas possuíam filtros de barro. “Havia inclusive um item na construção, no canto da cozinha, a cantoneira, feita apenas para abrigar o filtro, como se fosse um objeto artístico ou de decoração”, lembra o economista Julio César Bellingieri, autor de uma tese de mestrado na Unesp sobre a indústria da cerâmica em Jaboticabal, terra dos filtros de barro. As fábricas foram atraídas para lá no início do século 20 em virtude de uma abundante jazida de argila na região.

Segundo Bellingieri, o filtro de cerâmica existe no Brasil desde 1910, quando começa a ser produzido por famílias de imigrantes italianos e portugueses. O tradicional filtro São João, de barro vermelho e com vela porosa que ilustra esta reportagem, foi criado entre 1926 e 1928 pela Cerâmica Lamparelli, de Jaboticabal. Em 1947, quatro irmãos da família Stéfani adquiriram a fábrica e continuaram a produzir os filtros com o mesmo nome e aparência até hoje. Com a queda da procura pelos filtros a partir da década de 1980, as demais fábricas faliram e a Cerâmica Stéfani se tornou a maior produtora de filtros de cerâmica do País e quiçá do mundo.

A Stéfani chegou a vender 80 mil filtros de barro por mês, mas quase fechou na última década, diante da concorrência da água engarrafada. Acabou contratando um executivo, Emilio Garcia Neto, para recuperar a empresa, que há quatro anos saiu do vermelho e atualmente exporta filtros de cerâmica para 45 países, 8 deles na África. “Tem gente que acha o filtro antigo, outros acham vintage”, brinca Emilio. A Stéfani fez algumas modificações no design de alguns filtros, substituindo a parte de cima por plástico, mas o São João continua um clássico. 50% do processo de fabricação ainda é feito manualmente.

lamparelli

(Propaganda do filtro São João. Fonte: Julio César Bellingieri)

O economista Bellingieri não sabe afirmar com certeza, mas é possível que o filtro de barro, neste formato, seja invenção brasileira. Já se usavam na Europa filtros de louça e cerâmica, mas iguais aos daqui, de barro vermelho, não –talvez sejam uma evolução das moringas, de origem indígena. Quando foi lançado no mercado, na década de 1920, o filtro de barro chegou a ser símbolo de status. “O público-alvo do filtro São João era formado por indivíduos com uma renda mais alta. Se o público consumidor da Cerâmica Lamparelli fosse ordenado em cinco ‘classes’ de ‘poder de compra’, poder-se-ia dizer que o filtro São João era comprado pelas classes A e B; as classes C e D compravam uma talha com torneira ou um ‘filtro reto’; e a classe E comprava um pote ou moringa sem torneira”, escreveu o pesquisador em sua ótima tese.

Durante os anos 1980, os filtros de barro passaram a sofrer a concorrência dos filtros de carvão ativado, que pareciam a coisa mais moderna do mundo, mas que não purificam a água melhor do que os filtros de barro –e sem usar energia elétrica. Nos anos 1990, as classes média e alta começam a substituir a água filtrada pelos galões de água mineral entregues em domicílio e o velho e bom filtro de barro é aposentado de vez. “A partir dos anos 2000 a venda de água mineral chega ao auge e passa a ser considerado ‘coisa de pobre’ ter um filtro em casa”, diz Bellingieri.

Este aspecto do “status” conferido a quem toma água mineral é curioso. No documentário Bottled Life (2012), do diretor suíço Urs Schnell, se comenta como jovens do Paquistão foram seduzidos pela ideia de que tomar água em garrafinha é cool, e assim a Nestlé conquistou mais um mercado. O documentário investiga o controle da multinacional suíça sobre a água mineral bebida em vários países do mundo, inclusive nos Estados Unidos.

Lá, a Nestlé é dona da marca de água mais vendida do país, a Poland Spring. Em uma passagem do filme, moradores de Fryeburg, no Maine, resolvem proibir que a empresa extraia a água para vender porque estaria poluindo o rio da cidade, e a Nestlé incrivelmente vai à Justiça… contra os cidadãos. E ganha. Em Nova York, a água mineral em garrafinha Poland Spring também é campeã de vendas e virou símbolo do life style saudável e esportista dos novaiorquinos sendo que, ironiza uma especialista no documentário, eles têm na torneira, grátis, a água limpíssima que vem das montanhas Catskill…

É chocante ver como o chairman da Nestlé, o austríaco Peter Brabeck-Lemathe, fala com jeito de galã e voz melíflua sobre a “importância” da água para o planeta como se fosse um ambientalista, enquanto a empresa explora o líquido para gerar lucro. Ninguém na Nestlé deu entrevista ao documentarista em nenhuma parte do mundo. (Vale a pena assistir, está no Netflix. Nunca mais você vai comprar nada da Nestlé depois, muito menos água.)

No Brasil, um grupo de moradores da cidade de São Lourenço, em Minas Gerais, e o Ministério Público se mobilizam contra a exploração do Parque das Águas da cidade pela Nestlé há 14 anos, sem sucesso (leia aqui reportagem da Agência Pública sobre o caso).

Na Europa, é comum as pessoas beberem água diretamente da torneira. Em São Paulo, como em algumas capitais do Brasil, a água que vem da torneira pode ser consumida, embora seja mais aconselhável que passe antes pelo filtro. A questão é que a indústria de bebidas nos convenceu que só a água de garrafinha é “segura”, ainda que na verdade não saibamos muito bem a origem dela. É um esquema que, como sempre, copiamos dos Estados Unidos. Em 2010, a ambientalista Annie Leonard criou este documentário onde explica como isto ocorreu.

Agora pensem em São Paulo, uma megalópole cuja região metropolitana concentra 20 milhões de habitantes, consumindo água mineral engarrafada sem parar e que agora está passando por uma falta d’água histórica. Não é de ficar com uma pulga atrás da orelha que estes dois eventos possam estar relacionados?

O Brasil é hoje o quarto maior consumidor de água mineral do mundo –só fica atrás dos EUA, México e China. São 7,1 bilhões de litros de água engarrafada por ano, quase 3 bilhões deles só em São Paulo. O consumo de água mineral cresce 10% por ano no país e, em 2014, com a Copa do Mundo e a seca, a ABINAM (Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral) fazia previsões de chegar a um consumo de 14 bilhões de litros. Como saber se retirar essa água toda do subsolo não está causando alguma espécie de desequilíbrio?

“Na minha opinião há, sim, uma correlação, mas não há como provar porque simplesmente não existe fiscalização eficiente da água mineral no Brasil”, diz o economista Pedro Portugal Júnior, autor de uma tese de mestrado na Unicamp sobre as empresas de água mineral. “Temos um problema institucional: aqui, a água mineral é considerada um minério, como o ferro, a bauxita, e portanto é fiscalizada não pelos órgãos que regem os recursos hídricos, mas pelo DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). E o próprio DNPM admite que estes números sobre o consumo são subestimados”.

De acordo com Portugal, as águas minerais deveriam ser integradas à gestão de recursos hídricos o mais rápido possível para que a fiscalização seja descentralizada. “Agora, por exemplo, está chovendo pouco. E se há uma estiagem, o DNPM tinha obrigação de exigir que as empresas diminuíssem a extração”, defende.

Pois o que está acontecendo em São Paulo é o contrário. As empresas de água mineral, que já são isentas do pagamento do PIS/Cofins desde 2012, receberam um presente de Geraldo Alckmin no início do mês de fevereiro: por decreto e atendendo ao pedido da ABINAM, o governador de São Paulo colocou a água mineral na cesta básica e concedeu uma redução no ICMS de 18% para 7% sobre o galão. Quer dizer, enquanto os paulistas choram com a falta d’água, o setor comemora a seca. A expectativa é que a redução do ICMS estimule a produção e que extraiam ainda mais água mineral do exaurido solo de São Paulo.

Se na cidade do México, outra gigante populacional e enorme consumidora de água mineral, o solo está afundando 2,5 centímetros por mês devido à retirada de água dos subsolos, por que São Paulo não sofreria nenhum efeito dessa exploração toda? Será coincidência que a falta de água seja mais grave nos Estados do Sudeste, onde mais se consome água mineral engarrafada no Brasil? Tentei fazer estas perguntas à ABINAM e não fui atendida. Tampouco o DNPM respondeu a meus questionamentos. Não encontrei estudos sobre o impacto da extração de água mineral em São Paulo, mas o professor de Geociências da USP, Reginaldo Bertolo, me tranquilizou dizendo que o volume é “relativamente irrisório”. Será?

Entrevistei o hidrogeólogo José Luiz Albuquerque Filho, chefe do Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), a quem expus minhas dúvidas.

Socialista Morena – Como mensurar o impacto ambiental em São Paulo da retirada de toda esta água mineral?

José Luiz Albuquerque Filho – O impacto ambiental vai estar associado ao local da extração. Se o proprietário seguiu as orientações técnicas, se explorou com racionalidade, teoricamente não teria impacto. Agora, em situações clandestinas, pode haver algum tipo de impacto, sim. O problema é a dificuldade de fiscalizar. Se retiram água da beira de um riacho, por exemplo, é fácil ser pego pela fiscalização. Mas uma fonte de água mineral é possível esconder com uma facilidade imensa.

SM – O senhor achou correto que o governador Geraldo Alckmin tenha reduzido o ICMS da água mineral, estimulando o aumento da produção, em plena seca?

JLAF – Qualquer decisão que for tomada neste momento tem que ter muito cuidado porque pode ser um tiro no pé. Talvez não precisasse ter baixado, porque o mercado está aquecido. O governador fez uma medida popular, apostando que o preço da água engarrafada irá cair. Mas será que eles vão mesmo baixar o preço?

SM – As chuvas foram suficientes para repor as reservas?

JLAF – Não. Estou muito preocupado. A chuva está passando, os mananciais estão a meia carga e há dois volumes mortos que foram utilizados no Cantareira e precisam ser repostos. E a gente não ouve falar em um plano de contingência, de emergência. Isso não vai dar certo. As pessoas com maior poder aquisitivo poderão recorrer à água mineral, aos caminhões-pipa. Mas e quem mora na periferia? Vai cavar um buraco no fundo da casa e tomar a primeira água que brotar, o que é um perigo. Mas é natural que procurem uma solução. Ninguém fica sem água.

Pelo sim, pelo não, aqui na minha casa não entra mais garrafão algum. O governo, se fosse responsável, deveria estimular os cidadãos a fazer o mesmo. E viva o filtro de barro.

(Cynara Menezes)

FONTE: http://socialistamorena.cartacapital.com.br/o-filtro-de-barro-o-capitalismo-e-a-seca-em-sp/

Atentado em Paris e Islamismo

26/02/2015 às 3:27 | Publicado em Artigos e textos, Espaço ecumênico | 1 Comentário
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Mais um excelente artigo do Professor João Batista Herkenhoff. Os ideais são os mesmos, não há motivo para tanta luta e revolta. Como ele diz, com respeito mútuo e diálogo a utopia humanista é possível !


Atentado em Paris e Islamismo   Prof_Joao_Batista

O brutal atentado contra jornalistas em Paris, repudiado com veemência por todas as pessoas que tenham um mínimo de senso, está permitindo que se reacenda, por malícia de alguns, um sentimento de rejeição ao Islamismo.

Este sentimento preconceituoso contra o Islã, que algumas vozes pretendem semear, neste momento de pânico, é totalmente inaceitável.

Não se pode confundir fundamentalismo imbecil com a Fé Islâmica. Não se pode aceitar que criminosos, que devem ser presos, julgados e punidos, sejam apresentados como protótipos de uma religião, como não se pode aceitar que os corifeus da Inquisição sejam considerados símbolo do Cristianismo.

O Islamismo ensina que o homem é “representante de Deus”, conforme se lê no Corão.

Observa Jean-François Collange, um especialista em estudos sobre religiões, que a igualdade, a dignidade e a liberdade inerentes a todos os seres não podem ser contestadas por qualquer instância humana, segundo o ensinamento islâmico.

O Islamismo prescreve a fraternidade, adota a ideia da universalidade do gênero humano e de sua origem comum; ensina a solidariedade para com os órfãos, os pobres, os viajantes, os mendigos, os homens fracos, as mulheres e as crianças; define a supremacia da Justiça acima de quaisquer considerações; prega a libertação dos escravos; proclama a liberdade religiosa e o direito à educação; condena a opressão e estatui o direito de rebelar-se contra ela; estabelece a inviolabilidade da casa.

Há uma semelhança estreita entre a visão islâmica do ser humano (homem, vigário de Deus), a ideia cristã ensinada por Paulo Apóstolo (homem, templo de Deus) e a ideia de homem como imagem de Deus (Gênesis, livro sagrado de judeus e cristãos).

Mohammed Ferjani nega que o Islamismo seja uma Religião obtusa, que impeça seus fiéis de ingressar na Modernidade, e rejeita a tese de que caiba ao Ocidente a missão civilizatória.

Não escrevo esta página baseado apenas em pesquisas realizadas na carreira universitária. Experimentei um mergulho pessoal que confirmou tudo que li. Refiro-me à participação num Colóquio Internacional Islâmico-Cristão, ocorrido em Paris, uma das mais belas experiências que vivi.

Nesse colóquio pude partilhar com crentes muçulmanos um projeto de mundo baseado na liberdade, na solidariedade e na Justiça. Não se tratou apenas de um intercâmbio intelectual mas de algo muito mais profundo, radicado no afeto, na compreensão recíproca, na comunhão.

A meu ver, esse mundo que, naqueles três dias, centenas de homens e mulheres de boa vontade supuseram possível construir, a partir do respeito mútuo e do diálogo, está bem próximo da utopia humanista redentora do mundo.

(João Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado (ES), professor e escritor)

E-mail: jbpherkenhoff@gmail.com

Site: www.palestrantededireito.com.br

CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2197242784380520

É livre a divulgação deste texto, por qualquer meio ou veículo, inclusive através da transmissão de pessoa para pessoa.

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