Maiakovski e Caetano Veloso: gente é pra brilhar

27/04/2024 às 2:04 | Publicado em Artigos e textos, Zuniversitas | Deixe um comentário
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Dois grandes. Confiram !


Maiakovski e Caetano Veloso: gente é pra brilhar

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O interesse pela literatura russa no Brasil, com base na tradução de obras de autores russos para o português, se deu de duas maneiras distintas ao longo do século 20. Primeiro veio a prosa, com a tradução de romances e contos de autores do século 19, como Tolstói, Gógol e Dostoiévski. A poesia veio mais tarde, em meados da década de 1960, em quantidade bem menor de traduções e, ao contrário da prosa, privilegiando a poesia moderna russa e, em particular, a obra do vanguardista Vladimir Maiakóvski (1893-1930).

A grande ironia é que Maiakóvski, que teve participação ativa desde o princípio da Revolução Russa de 1917, conquistou a intelectualidade brasileira justamente no período de maior repressão da ditadura militar. Os poetas e irmãos Augusto e Haroldo de Campos estavam entre seus maiores divulgadores, inclusive na tradução de diversos de seus poemas. Daí a espraiar sua influência na música popular brasileira foi um pulo. Era a época do Tropicalismo, capitaneado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, e acompanhado de perto pelos irmãos Campos.

A poesia de Maiakóvski está presente em várias canções da nossa MPB, mas quero destacar aqui a parte final de um poema de Maiakóvski, “A extraordinária aventura vivida por Vladimir Maiakóvski no verão na Datcha”, com tradução de Augusto de Campos, na qual dois momentos nos ligam diretamente a duas ou três músicas bastante conhecidas, duas de Caetano Veloso e uma de Roberto Carlos.

“Brilhar para sempre, brilhar como um farol, brilhar com brilho eterno gente é pra brilhar, que tudo mais vá pro inferno, este é o meu slogan e o do sol.”

Na vibrante música “Gente” de seu álbum “Bicho”, de 1977, Caetano Veloso exalta as pessoas e diz em uma de suas estrofes em que cita seus irmãos, seu filho e alguns músicos brasileiros:

“Rodrigo, Roberto, Caetano Moreno, Francisco, Gilberto, João… gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”.

Já o trecho “que tudo mais vá pro inferno”, segundo Augusto de Campos, ele pegou emprestada da música “Quero que vá tudo pro inferno”, 1965, de Roberto Carlos. Frase esta que também aparece na canção “Tropicália”, 1967, de Caetano.

Nesse torvelinho de empréstimos poéticos, eu só não sei o que Roberto Carlos pensa disso tudo! Caetano Veloso também musicou versos do poeta russo em sua “O Amor”, cantada por Gal Costa. Outros nomes da MPB beberam das poesias de Maiakóvski, como João Bosco, Jorge Mautner, a banda Inocentes, Alceu Valença e Flaviola. O caso mais interessante, li isso há algum tempo e agora não consigo mais achar, é de um disco inteiro dedicado a Maiakóvski, com poesias musicadas e cantadas por artistas brasileiros, que não chegou a ser lançado, ao que parece, por questões de direitos autorais.

(PAULO FERNANDES)

FONTE: https://www.revistabula.com/76058-maiakovski-e-caetano-veloso-gente-e-pra-brilhar/

POLÍTICA COM VATAPÁ – A filha

26/04/2024 às 2:17 | Publicado em Artigos e textos | Deixe um comentário
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Porque rir também é preciso !

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POLÍTICA COM VATAPÁ – A filha

Era uma chuvosa noite de maio, mas o tempo feio não desanimou o major Cosme de Farias de ir ao Instituto Histórico assistir palestra de Paulo Pedreira sobre a vida de Paulo Quirino. Ia saindo, alguém bate na porta. Era uma mulher, toda suja de lama e molhada.

— Major, só o senhor pode me ajudar. A chuva derrubou minha casa e me deixou só com a roupa do corpo…

— Venha comigo, minha filha. Sua ajuda está onde vou.

Entrou no Instituto Histórico com a mulher suja, a seleta plateia espantada, mas calada. Paulo Pedreira dissecou a vida de Paulo Quirino, concluiu, aplausos, Major Cosme interveio:

— Paulo Quirino merece todas as nossas reverências, mas não é justo que a filha dele se encontre nesse estado.

E apontou a mulher. Comoção, rodaram a sacola, o dinheiro deu para a desvalida comprar novo barraco e sobrar algum. Na saída, Paulo Pedreira se dirigiu ao Major.

— Major, algo está me intrigando. Eu li e reli a vida de Paulo Quirino e nunca ouvi dizer que ele tivesse essa filha…

E o Major:

— Eu também não

(Levi Vasconcelos)

FONTE: JORNAL A TARDE, SALVADOR-BA, 30.03.2024

Harvard apresenta bateria que dura para sempre

23/04/2024 às 2:13 | Publicado em Artigos e textos, Zuniversitas | Deixe um comentário
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Um dos maiores gargalos hoje para automóveis elétricos e outros é justamente a bateria. Mas as pesquisas estão avançadas e continuam. Confiram !


Harvard apresenta bateria que dura para sempre

Capacidade material específica de 3.860 mAh/g e baixo potencial (redox) eletroquímico garantem 80% da capacidade, mesmo após 6.000 ciclos de recarga, à Adden Energy

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O leitor que nos acompanha conheceu, recentemente, a nova bateria nuclear (BV100) da chinesa Betavolt, que fornece dez vezes mais energia e alcança 50 anos de duração, sem necessidade de recarga nem manutenção. Bom, nesta semana foi a vez de os norte-americanos darem o troco e a equipe liderada pelo professor Xin Li, da Faculdade de Engenharia de Ciências Aplicadas da Universidade de Harvard, anunciou o desenvolvimento de uma bateria em estado sólido (para a Adden Energy) que leva apenas 10 minutos para recarga completa e, o melhor, dura para sempre.

“Nossos testes avançam na direção de um conjunto muito mais prático, tanto para aplicações industriais quanto para uso comercial, que mantém 80% da sua capacidade, mesmo após 6.000 ciclos de recarga, superando todos os acumuladores disponíveis, atualmente”, garante Li. “Este tipo de pacote apresenta inúmeras vantagens, já que possui capacidade material específica de 3.860 mAh/g e baixo potencial (redox) eletroquímico – que é a espontaneidade, a tendência à diminuição algébrica da carga formal ou de oxidação”, acrescentou.

É fato que há um enfoque na autonomia e no tempo de recarga das baterias dos EVs, mas pouco se fala sobre a vida útil desse tipo de conjunto. Para o leitor ter uma ideia, em média, os modelos convencionais suportam entre 1.000 e 1.500 ciclos de carregamento e, para garantir uma operação próxima do ideal (de quando a bateria era nova), devem manter uma capacidade de retenção de carga acima de 70%.

Portanto, levando em consideração o fator tipológico que os compõem e uma autonomia média ainda que de 300 quilômetros, entre cada recarga, dá para estimar uma vida útil entre 300 mil e 450 mil km. No mesmo sentido, até agora não se tem notícia de tempos de carregamento inferiores a 30 minutos e, isso, para a recarga parcial que preencha até 80% e, no máximo, 85% da capacidade.

Ion de sódio

Como se vê, a solução desenvolvida para a Adden Energy promete uma verdadeira revolução, mas, contrariamente às expectativas, pelo menos em curto prazo não veremos tecnologias com melhor desempenho do que o íon de lítio (NMC), principalmente em relação à densidade, ou seja, à capacidade de acumular energia.

Dimensões e massa dos conjuntos serão reduzidos tanto quanto possível, mas os avanços serão invisíveis aos olhos e devem se concentrar na redução de custos e no controle sustentável da cadeia produtiva, com uso de minerais e combinações alternativas, como o fosfato de lítio-ferro (LFP) que dispensa o caríssimo níquel, bem como o polêmico Cobalto, extraído em minas onde a condição dos trabalhadores vem sendo denunciada.

“Nossa aposta são as baterias de íon de sódio, uma tecnologia que desenvolvemos e que pode reduzir a dependência de matérias-primas escassas, estabelecendo uma base para a próxima geração de EVs”, afirma o presidente-executivo (CEO) da sueca Northvolt, Peter Carlsson.

“São células com densidade de energia de mais de 160 kWh por quilograma, produzidas sem uso de lítio, níquel, cobalto ou grafite. Nossa proposta garante o desempenho necessário para armazenamento de energia com maior duração do que a química regular das baterias e, o que é o melhor, a um custo inferior”, assegura Carlsson. Em 2023, as gigantes chinesas CATL e BYD já haviam anunciado suas baterias de íon de sódio, mas quem estreou a novidade foi o JAC Yiwei – no caso da JAC, os conjuntos são fornecidos por outra empresa, a HiNa Battery.

Alternativamente à nova tecnologia desenvolvida em Harvard, a nova bateria da Northvolt conta com um ânodo de carbono duro e um cátodo com pó branco prussiano e alto teor de sódio, mais econômicos e sustentáveis do que o níquel, o manganês, o cobalto ou mesmo o fosfato de ferro. Mais segura em altas temperaturas, a Northvolt considera sua solução especialmente atraente para o armazenamento de energia em mercados como a Índia, o Médio Oriente e a África.

A expectativa é tão otimista que a companhia, único grande fabricante europeu de baterias, está ampliando sua capacidade instalada, na Suécia, enquanto estuda a construção de duas outras fábricas, uma na Alemanha e outra no Canadá. O impulso é financiado por um aporte de US$ 9 bilhões (o equivalente a R$ 45 bilhões) e por pedidos de BMW, Volkswagen e Volvo/Polestar que totalizam US$ 55 bilhões (R$ 274,7 bilhões).

(Homero Gottardello)

FONTE: https://www.mobiauto.com.br/revista/harvard-apresenta-bateria-que-dura-para-sempre/4333

Pesquisadores da Unicamp desenvolvem “ChatGPT" e "DALL-E” brasileiros

17/04/2024 às 2:20 | Publicado em Artigos e textos, Zuniversitas | Deixe um comentário
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Muito interessante essa notícia. Vale a pena testar !


Pesquisadores da Unicamp desenvolvem “ChatGPT" e "DALL-E” brasileiros

Pesquisadores da Unicamp desenvolvem “ChatGPT" e "DALL-E” brasileiros   

Já pensou em um ChatGPT que “fala” português, desenvolvido no Brasil, que ajuda em algumas tarefas complexas?  Sim, isso já é realidade. Talvez você ainda não saiba, mas o Brasil está no páreo do desenvolvimento global das inteligências artificiais.

O Brasil não faz feio diante de gigantes como OpenAI, com seu ChatGPT, financiado pela Microsoft; o Google, com seu modelo Gemini; Anthropic, com o seu Claude; a francesa Mistral, a chinesa Baidu, com Ernie Bot, entre outras.

Há 6 anos, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, vem estudando e se especializando em inteligência artificial (IA). A startup foi criada um mês antes do lançamento do ChatGPT, da OpenAI.

Nove meses depois, em maio de 2023, o resultado deste esforço se materializou no MariTalk, o chatbot de IA 100% brasileiro, que está disponível de graça na internet. Assim como o ChatGPT, da OpenAI, é treinado para auxílio em algumas tarefas, como resolver uma prova do Enem, até compreender aspectos da legislação brasileira. E, tudo isso nativo no idioma português brasileiro.

Esse grupo, liderado pelo doutor em Ciências da Computação e professor voluntário da Unicamp, Rodrigo Nogueira, com seu colega Ramon Pires, além dos pesquisadores Hugo Abonizio e Thales Almeida, formam a startup Maritaca AI, uma empresa 100% nacional que tem a ambição de ser uma OpenAI brasileira.

O grupo conversou com o SBT News sobre os desafios da startup. Os pesquisadores deram detalhes sobre o desenvolvimento do chatbot e revelaram que a Maritaca trabalha em uma IA que gera e cria imagens, no mesmo formato do chatbot DALL-E, da OpenAI.

O líder e fundador da startup tem um objetivo claro: transformar a Maritaca numa referência internacional em inteligência artificial, assim como a Embraer é referência na aviação mundial. Confira abaixo a entrevista.


Maritaca AI

  • Fundada em outubro de 2022, em Campinas (SP)
  • Fundador e CEO: Rodrigo Nogueira
  • Integrantes: Ramon Pires (pesquisador), Hugo Abonizio (pesquisador), Thales Almeida (pesquisador) e Thiago Laitz (pesquisador)

Estabelecida em Campinas, no interior de São Paulo, um mês antes do lançamento do ChatGPT, pela OpenAI, startup desenvolve inteligências artificiais (IA) em domínios e idiomas. Desenvolvem produtos e pesquisa avançada em IA, grandes modelos de linguagem (LLM) e em processamento de linguagem natural em português. O chatbot MariTalk, desenvolvido em língua portuguesa, foi lançado em maio de 2023.


Da esquerda para direita Thales, Ramon, Rodrigo, Thiago e Hugo são pesquisadores da Unicamp que formam a startup Maritaca AI | Arquivo pessoal

Da esquerda para direita Thales, Ramon, Rodrigo, Thiago e Hugo são pesquisadores da Unicamp que formam a startup Maritaca AI | Arquivo pessoal

SBT News — Como começaram a trabalhar com inteligência artificial (IA)?

Rodrigo Nogueira (RN) — Comecei a trabalhar com IA em 2012, quando estava na área de imagens, onde foi o primeiro grande boom de IA. Ali, tivemos sucesso de conseguir identificar se uma impressão digital é verdadeira ou falsa. Isso se transformou num produto que é especial para várias empresas. Foi deste instante que comecei a gostar cada vez mais dessa área.

Em 2018, começarmos a trabalhar com um modelo de linguagem. Na época, não eram grandes, mas pequenos modelos de linguagem. A gente lançou o primeiro modelo de linguagem brasileira, pegado no português, o nome dele é BERTimbau. Hoje, tem mais de 10 milhões de downloads no site, no nosso repositório, que armazena todos esses modelos.

+ Íntegra do estudo do BERTimbau (pdf)

Sou formado nos Estados Unidos, depois voltei para o Brasil e trabalhei numa série de outras empresas. Todo time que está aqui comigo eram pessoas que trabalhavam nas outras empresas e então tomei a decisão de criar a Maritaca, convenci o pessoal de trabalhar com a gente.

O importante foi a percepção de criar a empresa antes do lançamento do ChatGPT. A gente já via que o turbilhão estava se formando.

A gente ganhou um Ad Grants do Google de US$ 1 milhão, para gastar no Google Cloud. O Google também deu para a gente acesso aos computadores deles para treinar. Foi o grande impacto.

A gente continua recebendo cada vez mais Ad Grants do Google. Tenho que agradecer à empresa, que cedeu parte da computação para a gente treinar esses grandes modelos de linguagem.

Isso culminou no Sabiá-2, que está chegando a um desempenho melhor que o GPT 3,5 Turbo. Mas, diferente do GPT 4, porque, com a especialização no português, a gente consegue serviços envolvendo algo muito melhor.

A gente está muito feliz com esse progresso, é uma tecnologia nacional, como você pode ver. Estamos tateando a área faz um tempão e tem que acertar a mão sempre.

SBT News — Qual foi essa fagulha, o que aconteceu para você fundar a Maritaca AI? O que faz a startup?

Nogueira — A gente sempre trabalhava com as inteligências artificiais, elas sempre funcionavam bem até cerca de 2021. Daí, em 2022, esses modelos tiveram um salto de potencial e melhorou muito a qualidade.

A gente já fazia a pesquisa no português e vi que, ao especializar essas linguagens para o português, o desempenho melhorava ainda mais. E foi daí que tive essa fagulha. Praticamente todos nós somos de vertente acadêmica, de pesquisa.  Mas, esse negócio não é simplesmente uma curiosidade científica, será uma coisa que impactará todo mundo.

O que a gente faz hoje é algo bem parecido com o que a OpenIA oferta. Por exemplo, no ChatGPT, você faz perguntas e o chatbot dá as respostas. Por exemplo, se você fizer uma pergunta cuja resposta está em diversos documentos, é muito difícil fazer o gerenciamento da pesquisa no Google. Com a IA, você faz diversas consultas, agrega os resultados.

O GPT-4 já consegue agregar essas respostas, dar uma resposta mais concisa.

Hoje, prefiro perguntar ao chatbot direto, verificar a resposta sobre aquilo que procuro, do que ficar varrendo a documentação no [buscador] Google.

Mas, em termos de produto, é algo bem semelhante à OpenAI ou à Mistral. Todas essas são as nossas concorrentes e digo isso com uma certa intimidade.

+ Microsoft investe na Mistral AI, rival francês da OpenAI e União Europeia abre investigação

SBTN — A Maritaca AI quer ser uma “OpenAI brasileira”?

RN — Esse é o nosso desejo, é ter essa tecnologia nacional. A razão para a gente ter essa “OpenAI brasileira” não é só porque a OpenAI está na moda, mas porque é muito importante.

Por exemplo, se você é um órgão do governo, como o Tribunal de Contas da União, você está ali tomando uma decisão se os pedidos de denúncia vão ser tratados ou não. Você pode usar uma série de IAs lá fora para tomar essa decisão para você. E do dia para noite, o governo brasileiro pode baixar uma lei aqui que restringe o uso dos aplicativos de fora. Isso terá um impacto enorme.

+ Todas as notícias sobre OpenAI

A IA, no futuro, a gente imagina que terá um impacto parecido com a eletricidade. É uma coisa que permeia tanto a sociedade, é tão importante, que você precisa ter domínio dessa tecnologia em nível nacional. Para que, caso aconteça um problema lá fora, você já terá em mãos um equivalente nacional.

Também sonho que a gente desenvolva um ecossistema de empresas cada vez mais tecnológicas, que fazem bom uso dessa IA.  Vão ter outras empresas que estarão construindo com a Maritaca, que estará com outras empresas. Hoje, esse ecossistema ainda é bem pequeno. A IA ainda está começando no Brasil e pode ser muito maior.

Maritaca mira em ser a OpenAI brasileira, se tornando uma referência em tecnologia de IA, como a Embraer é para a indústria aeronautica | UnsplashMaritaca mira em ser a OpenAI brasileira, se tornando uma referência em tecnologia de IA, como a Embraer é para a indústria aeronautica | Unsplash

SBT News — Você pode explicar o que é o chatbot MariTalk?

Nogueira — Vou explicar de forma mais simples possível. Chatbots são inteligências artificiais treinadas para entregar uma grande quantidade de texto. A IA sempre prevê a próxima palavra dos documentos que ela está lendo. Imagine que ela é treinada para "apostar" na próxima palavra que vai aparecer naquela frase digitada pelo usuário.

Como são treinadas, são chamados de modelos de linguagem, que só aprendem a próxima palavra. Na prática, são redes neurais, que são algoritmos de IA que têm bilhões de parâmetros [cenários possíveis], que se ajustam de maneira automática, para que a IA acerte a predição [previsão] da próxima palavra.

É isso que está rodando no MariTalk e a gente treina esse chatbot em português. A maioria dos textos é em português e daí cria aquela ilusão de que, quando a gente está conversando com chatbot, a gente está prevendo a próxima palavra, por meio do recurso autocomplete.

O usuário pergunta que é o esteroide, por exemplo. A IA traz a palavra "anabolizante", acertando a próxima palavra. Então, você cria aquela ilusão de conversa.

Neste caso, o sistema foi treinado em português e, daí, é feito um pequeno refinamento para dar forma a um chatbot. Estes sistemas lembram muita coisa e sabem de muita coisa e a MariTalk faz isso também, com foco no Brasil.

SBT News — Como tem sido essa aceitação dessa inteligência artificial brasileira?

Nogueira — Lançamos a nossa primeira versão comercial em dezembro, praticamente num período de festa, mas, ainda assim, teve uma grande aceitação. A gente recebe uma dezena de e-mails por semana, de empresas interessadas, querendo usar o nosso sistema.

Os usuários também estão sobrecarregando nossos servidores, gerando dificuldade de encontrar computação para atender a demanda. Essa é a parte mais importante e estamos no começo.

Acabamos de lançar o chatbot e estamos muito empolgados com as próximas versões.

SBT News — Quais são os desafios para desenvolver uma tecnologia de inteligência artificial 100% brasileira?

Nogueira — O primeiro desafio é a computação. Para treinar essas inteligências artificiais, precisamos de computadores especiais, os chamados de “GPU dos CPUs”. E existe um problema para conseguir esses computadores.

A gente teve a sorte, pois o Google nos apoiou inicialmente. Mas, a gente está buscando mais apoio, porque sabemos que existe uma competição muito grande nesta área. Quanto mais computação você investe para treinar estes modelos de linguagem, melhores eles ficam.

A coleta de dados também é um problema. A gente podia pedir ao pessoal do governo para deixar esses dados cada vez mais públicos.

Essas inteligências artificiais se beneficiam de dados públicos para conseguir entregar algo melhor para o povo brasileiro.

+ Apoiada por Google e Amazon, Anthropic lança inteligência artificial Claude 3

Sobre o pessoal, tive a sorte de ter esse time que considero super high-tech, o pessoal é fera. Tenho essa perninha na Unicamp como professor convidado, então sempre estava ali perto.

Há uma defasagem na formação do pessoal que é capacitado para treinar essas coisas. Imagino que no futuro será resolvido. Mas, ainda há uma grande dificuldade.

Maritalk usa grande modelo de linguagem (LLM) Sabiá-2. Sistema é comparável aos usados nas IAs generativas como ChatGPT, GPT-4 e outros | Reprodução/Maritaca AIMaritalk usa grande modelo de linguagem (LLM) Sabiá-2. Sistema é comparável aos usados nas IAs generativas como ChatGPT, GPT-4 e outros | Reprodução/Maritaca AI

SBT News — O Brasil tem especialistas e profissionais para dar conta da demanda atual e futura?

Nogueira — Toda semana, recebo um monte de e-mails de alunos e pessoas querendo aprender mais sobre inteligência artificial. Mas, ainda estamos muito atrás com essa mão de obra especializada. Os Estados Unidos e outros países desenvolvidos têm a maioria dos especialistas.

Acredito ser super importante essa formação, o pessoal vindo da graduação, mestrado e o doutorado. O Ramon, por exemplo, estuda inteligência artificial desde 2011; já o Hugo, está estudando desde 2018.

São conhecimentos que precisam de uma década para gente acertar a mão, na hora que terminar os estudos. Estou otimista de que vai melhorar.

SBT News — A Maritaca possui uma base própria de dados para treinar a MariTalk de forma adequada?

Nogueira — A gente começou coletando os próprios dados, vai ao cliente e coleta o possível. Há um grande esforço para fazer uma boa curadoria de dados.

Quanto melhor a qualidade, por exemplo, um documento que explica bem, uma lei que explica bem, mais teremos dados para treinamento. A gente faz um grande esforço para fazer uma boa coleta de dados. Os dados nesse mundo de IA valem ouro.

Se você precisa de documentos que expliquem bem em uma lei ou que expliquem uma doença tropical, ou coisas do tipo, não basta qualquer dado da internet. Você não entra num fórum de internet, onde tem várias conversas aleatórias, e espera que os dados retirados vão ajudar.

Estamos falando de milhões de documentos inseridos no modelo de linguagem, então não dá para fazer isso manualmente. São dados de treinamento dessa inteligência artificial. Criamos dados para validar a saída do modelo de linguagem, esse, sim, a gente faz à mão com muita cautela.

SBT News — As gigantes de IA atraem muitos recursos para investir nas suas tecnologias, como a OpenAI, que recebe investimento da Microsoft, e a Mistral, que recebeu investimentos do Google. Qual é o desafio da Maritaca AI para atrair investidores?

Nogueira — O investidor brasileiro gosta bastante de investir em empresas que desenvolvem aplicativos, como fintechs, aplicativos de compartilhamento e de gerenciamento de inúmeras coisas.

O que estamos criando é uma infraestrutura de IA que serve de base para a construção de outros aplicativos. A minha percepção é que não tem tanto apetite para esse tipo de investimento no momento. Porém, não posso dizer nomes, mas estamos com boas pessoas interessadas em investir na Maritaca.

Aos poucos mudamos essa mentalidade do investidor no Brasil. É o que a gente espera mudar com a Maritaca. Temos a ambição de ter uma empresa que faz tecnologia de base, como a Embraer. A Embraer mostra que o Brasil, sim, é capaz de produzir alta tecnologia.

SBT News — Quais são os próximos planos e ambições da Maritaca e os próximos planos da MariTalk?

Ramon Pires — Uma das coisas que trabalharemos nos próximos meses é deixar o modelo atualizado, para que o chatbot saiba dos eventos recentes, que aconteceram na última semana, por exemplo.

Isso é diferente do que existe hoje em modelos de linguagem geral, que têm uma data limite de conhecimento. Por exemplo, os modelos de linguagem da OpenAI, como o GPT-3,5, têm conhecimento registrado até 2021; já o GPT-4 tem conhecimento até outubro; uma das versões do chatbot vai até agosto e outra até dezembro do ano passado.

O que a gente quer fazer é um aprendizado contínuo. Deixaremos o modelo de linguagem atualizado sobre assuntos mais recentes, para evitar que ele esqueça as coisas relevantes do passado.

Outra coisa que a gente trabalhará na Maritaca é permitir que os usuários façam o ajuste fino dos modelos em dados próprios, para cada usuário obter conhecimento sobre algum domínio em que tenha interesse. Futuramente, a gente planeja também lançar modelos multimodais, com imagens e textos.

Thales Sales — Além de tudo isso que o Ramon falou, a gente também vai trazer modelos cada vez mais capazes. Nosso Sabiá-2 está esbarrando [em desempenho] no GPT-4, mas vamos lançar futuras versões. Estamos esperançosos em ultrapassar o desempenho do GPT-4, para ficar tão bom quanto o chatbot da OpenAI.

Hugo Abonizio — A gente especializou nossa IA para realizar grandes tarefas em português. Acreditamos que se especializar em domínios específicos também podemos trazer esse ganho, para assim atender o Brasil.

SBT News — Vocês podem falar desse modelo de linguagem ou desse chatbot que pode gerar imagens? Seria um “DALL-E brasileiro”?

Ramon Pires — Seria parecido com isso [DALL-E]. Na verdade, seria mais interessante um modelo que conseguisse entender a imagem. A arquitetura utilizada nos modelos de linguagem atuais foi pensada inicialmente para texto. Com isso, os usuários poderiam passar não só um texto, mas uma imagem para esse modelo.

Rodrigo Nogueira — A gente viu esses ganhos em português, temos essas ambições de fazer as inteligências artificiais para outras línguas, como o espanhol, por exemplo.

Uma vez montada essa infraestrutura, você leva para outros domínios, em outras línguas para a gente, não fica tão difícil. E a gente percebe que essa especialização da IA leva a modelos de linguagem muito melhores que os computacionais já disponíveis para treino. 

+ Baidu anuncia Ernie Bot, o "ChatGPT" chinês

Pesquisadores da Maritaca estão desenvolvendo uma versão brasileira do Dall-E, o gerador de artes e imagens por IA da OpenAI | ReproduçãoPesquisadores da Maritaca estão desenvolvendo uma versão brasileira do Dall-E, o gerador de artes e imagens por IA da OpenAI | Reprodução

SBT News — E para encerrar, Rodrigo, como você enxerga o futuro da inteligência artificial? Como você vê o Brasil diante desse desafio tecnológico?

Nogueira — Estou bem esperançoso de a gente ter um ecossistema, um parque industrial, para inteligência artificial no Brasil. Com clusters nesses centros de dados (data centers) para servir e treinar essas IAs localmente ou em parceria com as empresas que consomem essas IAs.

Vejo que a Maritaca como uma das empresas que se posicionam nesse meio, onde as pessoas não estão presentes nem na construção de data centers, nem na construção de aplicativos para o cliente final. Mas, a gente está ali no meio, provendo toda a sua infraestrutura, com as melhores inteligências artificiais disponíveis.

Imagino que o Brasil tenha muito a fazer nessa área, uma vez que é um país grande e é super informatizado.

Uma das coisas que contribuem para isso é o que fizemos durante a divulgação do Sabiá-2. Encontramos 64 provas do Enade, OAB e Revalida para analisar o desempenho dos nossos modelos de IA.

Para nossa surpresa, quando a gente faz a mesma busca para a versão em espanhol, temos dificuldades. Fica mais difícil encontrar essas provas em outros países. Diferente do Brasil, que tem a cultura de informação, com documentos que estão sendo digitalizados e disponiblizados na internet.

Linha do tempo de lançamento das Inteligências Artificiais Generativas (IAG) | Montagem/Cido Coelho/SBT News

Linha do tempo de lançamento das Inteligências Artificiais Generativas (IAG) | Montagem/Cido Coelho/SBT News

Acesse as IAs generativas disponíveis:

>> Maritaca MariTalk https://chat.maritaca.ai/

>> OpenAI ChatGPT http://chat.openai.com/

>> Google Gemini https://gemini.google.com/app

>> Anthropic Claudehttps://claude.ai/

>> Mistral Le Chathttps://chat.mistral.ai/

>> Baidu Ernie Bothttps://yiyan.baidu.com/

(Cido Coelho)

FONTE: https://sbtnews.sbt.com.br/noticia/tecnologia/mirando-a-open-ai-pesquisadores-da-unicamp-desenvolvem-chat-gpt-e-dall-e-brasileiros

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