ANANSE ENTRE DOIS CONVITES

14/11/2016 às 3:09 | Publicado em Artigos e textos, Canto da poesia | 2 Comentários
Tags: Literatura, poesia

Saulo Dourado, para mim uma das gratas novidades do mundo da literatura nacional, de vez em quando vem aqui, via A TARDINHA, do Jornal A TARDE (Salvador-BA). Posto hoje mais esse conto que nos faz pensar. Poesia em prosa.

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ANANSE ENTRE DOIS CONVITES

Esta sábia aranha tentou enganar a física e estar em dois

Ananse, uma aranha sábia, tornou-se o juiz de duas aldeias. Certa vez, uma família da primeira aldeia chamou Ananse para ser convidado de honra de um casamento. “Claro que vou”, Quando todas as cores se misturam respondeu. Logo depois, apareceu uma família da
segunda aldeia chamando-o para fazer a cerimônia de um funeral. O problema é que seria
no mesmo horário! Sem querer desagradar, Ananse disse também: “Eu vou, eu vou!”. E agora, como faria para estar em dois lugares ao mesmo tempo? Ananse chamou os filhos e deu, a cada um, uma corda. Amarrou-se e instruiu que um filho fosse ao casamento e o outro fosse ao funeral. Quando precisassem de Ananse de um lado, era só um filho puxar, quando precisassem no outro, era só o outro filho puxar. Assim fizeram. Em uma aldeia, a aranha sorria e desejava felicidades. Na aldeia seguinte, chorava e prestava homenagens.
Mas de tanto ir e vir, lá foi Ananse dizer na frente dos noivos: “Ó que tristeza, ó que fim
indigno!”. Já no funeral, comemorava: “Estou tão alegre por este momento!”. E os filhos só
puxando, puxando a corda, como em um cabo de guerra e com tanta força, que a aranha
desmaiou. Quando acordou, o povo das duas aldeias se ria das enrolações de Ananse. Ele, muito envergonhado, foi para o canto de uma casa, fez sua teia e para sempre lá ficou.

*BASEADO NO CONTO AFRICANO DE TRADIÇÃO ORAL “ANANSE, O JUIZ IMPARCIAL”

(Saulo Dourado)

FONTE: Jornal A TARDE (Salvador-BA), 29.10.2016