Não somos 1%

31/03/2017 às 22:48 | Publicado em Artigos e textos, Zuniversitas | 1 Comentário
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No final deste dia de manifestações por todo o país, compartilho esse artigo de hoje do Professor de História da UFBA Carlos Zacarias de Sena Júnior para nunca esquecer a “Gloriosa de 64” e refletir sobre o momento político atual que passamos o povo, o país e a Nação.

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Não somos 1%  carlos-zacarias_thumb

Resultaram em retumbantes fracassos as manifestações convocadas pelas organizações Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem pra Rua no último domingo. Sob o pretexto de apoiarem a Lava Jato e lutarem contra a corrupção, mas endossando as medidas adotadas por um Congresso e um governo cujos membros estão denunciados por corrupção, os grupos das
novas direitas promoveram atos programados desde meados de fevereiro e amplamente propagandeados por semanas, mas tudo que conseguiram colher das ruas foi fracasso e vergonha.

Após o fiasco, líderes das duas organizações, e de outras menores, minimizaram a  baixíssima adesão aos atos, alegando a complexidade dos temas. Falando ao site do El País (Brasil), Kim Kataguiri afirmou: “Evidentemente não vamos reunir milhões de pessoas como na época do impeachment porque era uma bandeira histórica, muito mais engajante do que essa. Mas também nenhuma democracia saudável mobiliza dois milhões de pessoas com frequência”. A questão é que nove dias antes, perto de um milhão de pessoas saíram às ruas de todo país contra as mesmas reformas que o MBL e o Vem pra Rua convocaram atos para
defender.

Ao que parece, tanto as organizações das novas direitas estão perdendo credibilidade, quanto as pessoas se deram conta do retrocesso social a que o Brasil está sendo conduzido. A propósito, em sua coluna na FSP, Mônica Bérgamo registrou que 74,8% dos manifestantes que estiveram na Av. Paulista eram contra a reforma da Previdência proposta pelo governo e 46,48% disseram que desejam ver Temer fora da presidência. Ou seja, dois terços dos manifestantes eram contrários às duas principais bandeiras do ato.

É possível que uns tantos desavisados tenham errado de manifestação, mas não parece improvável que quanto ao governo alguns queiram um presidente ainda mais à direita do que este que aí está. Para os primeiros é ainda possível acertarem o passo com a história, mas para os segundos o melhor a fazer é se recolherem às suas casas para não serem varridos para a lata de lixo da história junto com aquele 1% que a direita representa.

Já nesta sexta-feira, 31, dia em que recordamos os tristes acontecimentos que sucederam no Brasil há pouco mais de 50 anos, novos protestos estão marcados, desta feita pelas organizações populares que são contra as reformas previdenciária e trabalhista do governo e também contra a lei das terceirizações recentemente aprovada pela Câmara. Os atos são preparatórios para uma greve geral marcada para o dia 28 de abril.

Na semana em que muitos lembrarão com tristeza o fosso em que o país se meteu ao longo de 21 anos de ditadura, nada melhor do que recuperar o protagonismo político e o controle das ações nas ruas, contribuindo para que o Brasil retome, definitivamente, o caminho do progresso e de uma efetiva justiça social.

(Carlos Zacarias de Sena Júnior)

FONTE: Jornal A TARDE, Salvador-BA, hoje.

De cabeça pra baixo

31/03/2017 às 3:08 | Publicado em Artigos e textos, Zuniversitas | 1 Comentário
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Mais um excelente artigo do Professor Jorge Portugal. Dedico a todos os amigos que trabalham no Poder Judiciário. Juiz Cordioli, um ponto fora da curva !

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De cabeça pra baixo jorge-portugal_thumb

Fernando Cordioli Garcia. Ele é juíz e em Santa Catarina é chamado de “juiz-coragem” por uns e “loouco varrido” por outros. Para o povão, um herói; para os ricos e poderosos, um celerado. Costuma dizer em alto e bom som que justiça só existe para punir “ppp”, preto, pobre e prostituta. Com base nessa tese, passou a agir como deve fazer um magistrado de verdade. Aos fatos: mandou confiscar dois automóveis do prefeito-la rápio, por desvio do erário, e os leiloou em praça pública; o tal sujeito tentou fugir em um terceiro carro, e Cordioli acionou imediatamente a Polícia Rodoviária Federal para interceptá-lo na estrada e, via teleconferência, promoveu ali mesmo o leilão do terceiro carro do alcaide-ladrão fazendo-o voltar a pé de onde estava. Aos poderosos em falta com a justiça, eram aplicadas penas alternativas leves e, obviamente, nunca cumpridas. Pois o juiz Cordioli passou a fiscalizar o cumprimento das tais penas, com uma decisão inédita: todo sábado ele convocava os apenados à sede da Polícia Militar e, pessoalmente, entregava uma pá a cada um e os fazia ajudar a tapar os buracos da cidade.

Resultado: por 49 votos num universo de 62, os desembargadores de Santa Catarina impuseram a Cordioli a submissão a exames psiquiátricos a fim de provar que ele é maluco, e assim exonerá-lo do Judiciário.

Pudera! Em um país que apeou uma mulher honesta do poder, por um impedimento fajuto, votado por um circo de horrores com cara de congresso, para colocar no seu lugar uma verdadeira malta, não nos admira que um juiz honesto e corajoso seja também impedido de atuar, para que não ameace ricos, poderosos e corruptos. O juiz Fernando Cordioli é,
portanto, um “péssimo exemplo” para o Brasil. Assim como o é um certo operário que chegou à presidência da República e nos seus oito anos de governo criou um patamar de dignidade para os pretos, pobres e prostitutas. Pessoas assim serão sempre “péssimos exemplos” para a elite brasileira.

(Jorge Portugal)

FONTE: Jornal A TARDE, Salvador-BA, 28.03.2017

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